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Desenvolvimento cognitivo

Não é verdade que só conseguimos aprender certas coisas até aos três anos

23 Jan 2022 - 10:00

Desenvolvimento cognitivo

Não é verdade que só conseguimos aprender certas coisas até aos três anos

Já todos ouvimos a frase “estamos sempre a aprender”, mas será que a ciência a confirma? Sim, ainda que seja certo que a função cognitiva diminua ao longo do tempo e que esteja dependente de diversos fatores.

Apesar de a produção e a migração de neurónios ocorrer, em grande parte, durante a gestação, este processo não só continua depois do parto, como a sua maturação e diferenciação celular se arrasta pela infância e adolescência. Na verdade, estudos indicam que o cérebro de uma criança de seis anos terá cerca de 90% do volume do cérebro de um adulto. O nível de conectividade entre neurónios no período pós-parto também é bastante superior ao dos adultos, o que pode ser explicado pela plasticidade e capacidade de adaptação do cérebro em estados precoces.

Investigações com recurso a imagens por ressonância magnética concluíram que o cérebro muda consideravelmente entre os primeiros três anos de vida, com alterações subtis após esta idade. Quanto ao volume de massa cinzenta, este provou ser significativamente mais elevado no cérebro de crianças em idade escolar do que em adultos, o que sugere que estas alterações podem ser regressivas – ou seja, pode haver perda de tecido cerebral durante a infância. Quer isto dizer que só aprendemos certas coisas até aos três anos?

Um estudo em 400 crianças finlandesas entre os três e os 12 anos, da Developmental Neuropsychology, concluiu que o desenvolvimento cognitivo parece ter diferentes estados de maturação, que podem estar dependentes da própria educação dos pais – como é o caso da fluência linguística, algo verificado especialmente no grupo dos 12 anos. Isto porque, de acordo com outros autores, a fluência linguística é geralmente adquirida até aos três anos e as alterações no trato vocal que se seguem podem ter impacto na fala. De qualquer forma, o estudo finlandês adianta que o controlo de impulsos parece atingir o seu auge aos seis anos, seguindo-se a maturação das funções visuais e auditivas, aos 10 anos, que se alargam pela adolescência, com o desenvolvimento da fluência linguística.

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Um estudo em 400 crianças finlandesas entre os três e os 12 anos, da Developmental Neuropsychology, concluiu que o desenvolvimento cognitivo parece ter diferentes estados de maturação, que podem estar dependentes da própria educação dos pais.

Num outro trabalho, publicado no “Journal of Cognition and Development“, os cientistas propuseram-se a analisar se as crianças e os adultos aprendiam de forma diferente. Para isso, juntaram um grupo de 10 rapazes e de 10 raparigas com idades entre os 11 e os 12 anos, bem como um grupo de jovens adultos, constituído por 14 mulheres e seis homens. Embora a sua prestação tenha sido semelhante em vários campos, os resultados suportam a ideia de que existe uma tendência para que o desenvolvimento cognitivo aconteça entre a infância e a idade adulta.

Os autores afirmam ainda que Susan Carey, da Universidade de Harvard, estava, em parte, errada ao dizer que não existe desenvolvimento na aprendizagem após a infância, argumentando que este processo está dependente da pessoa e da tarefa. Outro estudo adianta que o desenvolvimento cognitivo implica não só a existência de fatores genéticos, mas também ambientais – ou seja, o cérebro necessita de estímulos para se desenvolver de forma saudável.

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Em suma, a ciência dita que o desenvolvimento cognitivo se arrasta até, pelo menos, à adolescência, verificando-se uma diminuição progressiva de massa cinzenta ao longo da idade adulta. No entanto, é importante notar que a aprendizagem está dependente de diversos fatores genéticos e ambientais, como é o caso do nível de escolaridade dos pais, por exemplo.

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Inteligência

23 Jan 2022 - 10:00

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